Hoje eu estava no metrô e presenciei uma situação muito
triste e abominável: um grupo de jovens fazia comentários desagradáveis e
preconceituosos sobre outro grupo de adolescentes que acabara de descer em uma
estação e os quais eram surdos e se comunicavam através da linguagem de sinais
(Libras).
Neste momento me lembrei de um texto de Marcia Regina
Zemella Luccas intitulado, “Sobre a história da língua de sinais e a educação
dos surdos”, que menciona que desde os tempos mais remotos, os surdos são
vitimados pelo forte preconceito existente em toda a sociedade mundial, a qual
embasada em uma grande falta de conhecimento e compreensão desta deficiência
física causou e ainda causa muitos danos a maioria destas pessoas existentes em
nosso meio social.
Fazendo um breve retrospecto do que aprendi em minha
graduação, lembro que na Grécia antiga, os surdos eram vistos como pessoas
irracionais e primitivas, que não deveriam ter direito a educação, uma vez que
por não possuírem a audição não conseguem aprender a falar e esta era
considerada algo divino. Tal conceito, também foi absorvido pelos romanos, que
consideravam os surdos como seres imperfeitos e que não tinham o direito de
pertencer à sociedade. Já no período feudal, lhes era negado o direito a
herança da família e a qualquer privilégio da sociedade, uma vez que se
acreditava que eles eram incapazes e débeis.
Ponce de León, assim como outros educadores deste período, fizeram uso
da língua gestual, apenas com o intuito de ensinar os surdos a aprenderem a
língua oral. Em seguida, temos a presença do abade Charles Michel de L´Épeé,
que em meados de 1750, fundou um abrigo que tornou-se a primeira escola
particular de surdos. Seu método, entretanto, era muito complexo, pois ensinava
palavra por palavra e tentava obedecer a gramática, causando deste modo a falta
de atenção por parte dos interlocutores (ouvintes) de um surdo.
Outro fato muito marcante na história da comunidade dos surdos ocorreu
com o Congresso de Milão, em 1880, onde o comitê que era unicamente constituído
por ouvintes, tomou a absurda decisão de excluir a língua gestual do ensino de
surdos, substituindo-a pelo oralismo, que é um método baseado na crença de que
a língua oral é a única forma possível de comunicação e desenvolvimento
cognitivo para os surdos e a língua de sinais deve ser evitada a todo custo
porque atrapalha o desenvolvimento da oralização. Em consequência disto, o
oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século
XIX e grande parte do século XX. Infelizmente e nossa contemporaneidade, ainda
persiste o ensino inapropriado dos surdos, pois muitas instituições e pais
ainda insistem em visar principalmente o aprendizado da oralização, sendo que o
surdo em sua essência já possui uma linguagem, a qual tem como diferença da
nossa apenas o fato de ser gestual.

O aprendizado de
Libras não foi e não continua sendo o suficiente para fazer com que os surdos
consigam conviver em harmonia com a sociedade, pois, além disso, é necessário
que os ouvintes (pessoas não surdas) tratem os surdos com respeito, carinho e atenção.
Enfim, a maior deficiência que um surdo enfrenta desde a antiguidade não é sua deficiência física, mas principalmente a intransigência e o
preconceito daqueles que são ouvintes.
Dicas:
Assistam o filme baseado na vida real de Helen Keller: “O milagre de Anne Sullivan (1962)”
Dicas:
Assistam o filme baseado na vida real de Helen Keller: “O milagre de Anne Sullivan (1962)”
Sinopse: A incansável tarefa de Anne Sullivan (Anne Bancroft), uma professora, ao tentar fazer com que Helen Keller (Patty Duke), uma garota cega, surda e muda, se adapte e entenda (pelo menos em parte) o mundo que a cerca. Para isto Anne Sullivan entra em confronto com os pais da menina, que sempre a mimaram e fizeram suas vontades, deixando assim de educá-la com medo de que ela sofresse.
Leiam a biografia "A História de minha vida de Helen Keller"
Sinopse: este livro apresenta o impressionante relato autobiográfico de Helen Keller (1880-1968), americana que, tendo ficado cega e surda aos 18 meses de idade, em fins do século XIX, conseguiu aprender a ler, escrever e falar, dominar línguas, graduar-se em filosofia e tornar-se escritora reconhecida. Com a chegada da professora Anne Sullivan à sua casa, quando Helen Keller tinha pouco menos de sete anos, seu mundo transformou-se: aprendeu a se manifestar através das palavras, até então desconhecidas, a expressar seus desejos, seus sentimentos, entendeu regras, etc. Enfim, um relato maravilhosamente emocionante!
* Pintura de Arsen Kurbanov
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